Inadimplência recorde, crédito caro e decisões financeiras mal estruturadas explicam por que tantas empresas enfrentam risco de colapso
O avanço da inadimplência no país tem ampliado a pressão sobre o setor produtivo. Segundo a Serasa Experian, o Brasil chegou a 8,1 milhões de CNPJs negativados e quase 79 milhões de consumidores inadimplentes. O consumo perde força, o crédito encarece e pequenas e médias empresas passam a conviver com margens cada vez mais estreitas.
Nesse contexto, decisões tomadas sem base técnica aceleram crises que poderiam ser evitadas. Para entender os fatores que levam negócios ao limite, a reportagem ouviu o advogado empresarial Pedro Galinari, conhecido por atuar exclusivamente com empresários e por integrar jurídico, finanças e gestão no diagnóstico das empresas. Segundo ele, a origem dos problemas raramente está em um único evento. “A empresa quebra aos poucos. O que destrói não é a dívida em si, mas a falta de estratégia sobre o que fazer com ela”, afirma.
A seguir, os cinco erros que mais comprometem a sobrevivência das PMEs.
1. Renegociar dívidas sem diagnóstico detalhado
“Negociar sem diagnóstico é ir ao banco sem saber o que pedir”, resume Galinari. Ele explica que muitas empresas chegam à mesa de negociação sem revisar a composição da dívida, sem conferir encargos acumulados e sem comparar taxas com referências do Banco Central. Sem essa base, o empresário perde poder de barganha e aceita condições que aumentam o comprometimento do caixa.
O primeiro passo, segundo ele, é entender exatamente o que está sendo cobrado. Só então a renegociação deixa de ser tentativa e passa a ser estratégia.
2. Assinar contratos bancários sem analisar o impacto futuro
Neste caso, o problema surge antes mesmo da inadimplência. Com a Selic atingindo 15% em 2025, operações como capital de giro e linhas rotativas ficaram mais caras e mais imprevisíveis. Ainda assim, muitas empresas contratam crédito emergencial sem simular a evolução dos encargos.
Galinari observa que, quando o juro é alto, qualquer variação compromete meses de planejamento. Por isso, recomenda que o empresário avalie não só o valor liberado, mas o impacto do contrato no fluxo de caixa ao longo dos meses.
3. Misturar despesas pessoais com a rotina financeira da empresa
O problema aqui é silencioso. Ele aparece em retiradas pontuais, pagamentos misturados e contas usadas indistintamente. Com o tempo, o gestor perde a capacidade de enxergar o desempenho real do negócio. Galinari explica que esse comportamento aumenta em momentos de crise, quando o dono tenta corrigir falhas com recursos pessoais. O efeito é o oposto: a confusão entre contas dificulta projeções e impede decisões precisas.
4. Operar com contratos societários desatualizados
Em muitas companhias, o contrato social continua igual ao da abertura da empresa, mesmo após mudanças de sócios, de estrutura ou de responsabilidades. Sem regras claras, qualquer divergência interna pode se transformar em conflito, e isso pesa diretamente nas finanças.
Para Galinari, empresas desorganizadas juridicamente enfrentam mais dificuldades para renegociar dívidas, apresentar garantias ou buscar investidores. A governança mínima, segundo ele, é tão importante quanto o controle financeiro.
5. Adiar ajustes essenciais mesmo após sinais de alerta
Atrasos recorrentes, renegociações sucessivas e dependência constante de crédito emergencial indicam que o problema já ultrapassou a zona de alerta. Ainda assim, muitos gestores tentam manter a operação como está, na esperança de que o tempo resolva.
Galinari observa que a postergação é um dos fatores que mais ampliam o risco de colapso. “Quando a empresa demora a agir, perde alternativas. A crise deixa de ser contorno e vira estrutura”, afirma. Reorganizar contratos, revisar projeções e ajustar o caixa cedo aumenta as chances de recuperação.

Para o advogado, o ponto comum entre todos esses erros é a falta de leitura técnica da situação. Empresas que revisam contratos, monitoram indicadores e tratam riscos com antecedência atravessam períodos de juros altos com mais segurança. Prevenção, segundo ele, continua sendo o fator que mais influencia a sobrevivência de pequenos e médios negócios.
Empresários interessados em aprofundar o tema encontram análises e conteúdos especializados em pedrogalinari.online, plataforma onde Galinari reúne orientações voltadas à tomada de decisão em cenários de alta pressão financeira.
